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Entrevista com Muna AbuSulayman (Arábia Saudita)

 

04 de julho de 2014

 

Entrevistada por Elaine

 

P: Em meio ao seu grande feriado religioso (Ramadã), agradeço o tempo dispendido. Estudando sua iniciativa, gostaria de fazer uma série de perguntas para compreender melhor sue projeto. Você é uma pessoa pública, uma das mulheres mais populares da TV árabe. Você não trabalha para o seu governo (rei) e não tem causas nem organizações específicas. Você está envolvida em várias iniciativas diferentes.

Uma das iniciativas mais recentes é de “twittar” a respeito de 30 organizações durante os 30 dias do Ramadã, a fim de aumentar a conscientização e talvez inspirar seus seguidores a doar para estas organizações.

Muito interessante a iniciativa para uma causa e uso muito criativo do seu publico na era digital. Você escolheu a temática de refugiados na Síria. De onde veio essa idéia de falar sobre essa causa?

 

R: Como muitas pessoas, quando confrontada com uma grave crise, eu me senti impotente. Tudo o que eu estou fazendo, faço como um indivíduo que acredita que ação nunca é o suficiente. Eu queria fazer algo para ajudar os sírios e queria utilizar meus pontos fortes .. Algo que possa ter efeito de bola de neve com força de transformação. Meu conhecimento dos campos de caridade e ONGs e minha rede de seguidores são meus maiores trunfos. Sou bastante popular na TV árabe e sou a figura feminina mais influente nas mídias sociais do Oriente Médio de acordo com Klout (ao lado de dois cantores que estão muito mais ligados ao entretenimento…).

 

Além disso, um monte de gente quer ajudar, mas têm medo de que eles estariam dando seu dinheiro para as organizações erradas. O problema não é só como o dinheiro poderia ser mal utilizado, mas também que no meu país, toda a riqueza de alguém pode ser confiscada se você der dinheiro (mesmo que por engano) a alguma organização que apóia os terroristas (ou que de repente é reconhecida como envolvida com atividades terroristas).

 

Eu decidi que gostaria de aumentar a conscientização a respeito das organizações com quem eu já trabalhei, sabe?, ou organizações que as pessoas podem fazer uma pesquisa de forma muito rápida... e que eu iria usar é minha capacidade de evangelização na mídia para ajudar o maior número de pessoas a obter essas informações a respeito dessas organizações... Espero que meus seguidores comecem a doar para as organizações que se sentem confortáveis.

<Muna tem 180mil seguidores no Twitter e outros milhares no FB. Seus tweets sao re-twitados por seus próprios seguidores e estima-se que a cada dia que ela posta sobre uma organização, 2 milhões de pessoas acessam informações sobre uma organização social envolvidada de alguma forma com refugiados da Síria>  

 

P: Como você criou essa forma de se comunicar?

 

R: Estou sempre interessada em ajudar... esta é apenas quem eu sou. Mas, não há tanta necessidade social na minha região e no mundo islâmico, de modo que você tem que ser um pouco criativo. Foi fácil este ano, já que a crise da Síria foi a maior crise humanitária do século XX. Mas eu ainda não sei o que vou fazer no próximo ano.

Hoje eu estou usando uma equipe de voluntários, que trabalham comigo em vários projetos. São 3 pessoas e eles me ajudam com a pesquisa e a escrita. Eu preciso tentar utilizar eficazmente o meu tempo.

 

Esse tipo de iniciativa já me acompanha há muito tempo. Apenas agora a novidade é que estou usando a mídia digital. Não acho que isso muda quem eu sou. É apenas o meu trabalho. Estou simplesmente fazendo o trabalho que deve ser feito por alguém (ou todos).

Isso toma 30 dias do meu ano, durante o Ramadã. As atividades foram distribuidas entre os voluntários de forma que eles ainda pudessem ter uma vida..  

Eu somente pararia o que estou fazendo caso após 10 dias de atuação, nós percebessemos que o efeito dominó parou. Mas não é isso que está ocorrendo. Temos tido ótimo feedback das pessoas sobre a amplitude desta iniciativa, sobre a aprendizagem em relação às organizações, sobre as doações financeiras que estão sendo feitas e também sobre pessoas que passam a ser voluntários das organizações.

Meu trabalho inicial foi ajudar os meus voluntários a saber identificar que tipo de organização eles deveriam pesquisar. Assumindo o nosso público alvo, tenho que confiar que eles sabem o que estão fazendo. Eu já fui ao acampamento de refugiados. Mas não posso fazer o trabalho de campo.   

Temos recursos limitados. Adoraria ter ainda mais apoios e parcerias. Eu gostaria de transformar a campanha  de 30 dias para todo ano. Assim poderíamos ajudar mais organizações a captar recursos e obter mais voluntários, já que muitas pessoas têm se envolvido também com as organizações publicadas através do voluntariado.  

Esses voluntários saem de lá e contam suas histórias para as pessoas que precisam ouvi-los.. tanto na Síria e fora da Síria..

Isso aumenta a consciência para áreas onde há grandes crises humanitárias em curso. Eu tenho trabalhado com muitas ONGs que não entendem completamente como ser financiadas. Também ajudamos no processo de aprendizagem delas.

Como estamos trabalhando agora, não investi muitos recursos. Mas para fazer isso mais profundamente e por mais tempo, seriam necessários mais voluntários e mais recursos financeiros.

 

O que faz dessa iniciativa única é que ninguém no Oriente Médio olha para as diversas facetas de uma crise humanitária. E não pedem apoio para muitas organizações com trabalhos tão diferentes em todas essas facetas e campos.

Nós estamos olhando para as iniciativas educacionais, de saúde, moradia, formulação de políticas, alimentação, segurança, etc ..

 

A amiga de um amigo entrou em contato comigo e disse que ela se comprometeu a apoiar uma organização por dia, com tudo o que podia.. assim, muito provavelmente em pequenas quantidades. Mas esse tipo de confiança significou muito pra mim. Que alguém acreditou e confia no meu trabalho, e que eu queria ajudar, e agora eles podem ajudar também.

 

Agora, pensando em novas tendências:

Na Arábia Saudita, Empreendedorismo tornou-se a palavra da moda e é visto como o caminho para salvar a economia da dependência do petróleo.

Atualmente estou apaixonada por 2 idéias que são de pólos opostos... a idéia de investimentos de impacto (Fundo Acumen por exemplo), mas também, a idéia de dar aos mais pobres (entre os pobres) empréstimos sem amarras para ajudá-los a sair de qualquer problema que tiverem ou com o sonho de criar um novo negócio... eles sabem como gerenciar seu dinheiro melhor do que nós, a fim de ter uma vida melhor.

Os investimentos de impacto olham para a mudança; o microcrédito olha para restaurar a dignidade das pessoas. Acho que nos próximos 3 anos, ambos os campos vão crescer.

 

Eu acho que as empresas de telecomunicações têm um alcance maior do que qualquer organização no mundo. Fazem isso através do envio de mensagens SMS para realmente mudar e melhorar as vidas das pessoas. Também fazem isso conectando pessoas que querem dar empréstimos a tomadores de recursos. Usar essa tecnologia para transformação social os faria parte essencial na conexão para mudança. 

 

Postado por Elaine

 

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